XII FESTIVAL DE POLIFONIA PORTUGUESA

𝗗𝗲 𝟰 𝗮 𝟲 - 𝟭𝟮 𝗮 𝟭𝟰 𝗱𝗲 𝗷𝘂𝗹𝗵𝗼 𝗱𝗲 𝟮𝟬𝟮𝟱 | 𝗝𝘂𝗹𝘆 𝟮𝟬𝟮𝟱

 Ao longo de seis concertos, o XII Festival de Polifonia Portuguesa reafirma o compromisso de valorizar e divulgar a herança musical portuguesa dos séculos XVI e XVII, património de extraordinária relevância histórica e artística. O ensemble Cupertinos apresentar-se-á em espaços de reconhecido valor patrimonial em Braga, Porto, Coimbra e Vila Nova de Famalicão, restituindo estas obras ao ambiente arquitectónico e sonoro para o qual foram originalmente concebidas.
Através da execução de todo este repertório vocal dos mais importantes compositores portugueses renascentistas, esta 12ª edição do Festival de Polifonia Portuguesa pretende, assim, oferecer ao público não apenas uma fruição estética, mas também instrumentos de leitura histórica e musicológica, evidenciando as redes artísticas, pedagógicas e institucionais que, entre Évora, Lisboa, Coimbra e a península em geral, deram origem a um dos períodos mais férteis e brilhantes da história musical nacional.

Concertos | Concerts


4 de julho
21h30, Basílica do Santuário do Bom Jesus do Monte, Braga 
5 de julho, 19h00, Igreja de Santa Cruz de Coimbra, Coimbra
6 de julho,19h00, Igreja Santa Clara, Porto

11 de julho
, 19h00, Igreja São Lourenço (Grilos), Porto
12 de julho, 19h00, Basílica dos Congregados, Braga
13 de julho, 17h00, Igreja Mosteiro de Santa Maria de Landim, Vila Nova de Famalicão

  • Programa - Primeira Semana (4 de julho, Braga | 5 de julho, Coimbra | 6 de julho, Porto)

    Rosa sine spinis
    A devoção Mariana na polifonia ibérica renascentista

    O primeiro programa, Rosa sine spinis, centra-se no repertório mariano ibérico, reunindo obras dedicadas à figura da Virgem Maria. Em destaque está a Missa Sancta Maria de Duarte Lobo, baseada no motete homónimo de Francisco Guerrero que abre o concerto, evidenciando a relação íntima entre modelo e a missa-paródia. Duarte Lobo, formado na Escola de Música da Sé de Évora e posteriormente mestre de capela da Sé Patriarcal de Lisboa, demonstra nesta obra uma notável sofisticação técnica e clareza contrapontística.
    O programa apresenta ainda motetes de compositores de grande relevo, como Francisco Guerrero, referência incontornável da polifonia sevilhana, e autor que marcou gerações. Estêvão Lopes Morago, natural de Vallecas (Madrid), veio para Portugal com cerca de 8 anos de idade, e integrou os moços de coro da Sé de Évora, prosseguindo estudos na sua Escola de Música, antes de assumir o cargo de mestre de capela na Sé de Viseu, onde deixou obra de notável densidade expressiva. Estêvão de Brito, natural de Serpa e formado igualmente em Évora, seguiu carreira como mestre de capela em Badajoz e Málaga, ilustrando a mobilidade artística na Península Ibérica. Manuel Rebelo, nascido em Aviz, e um dos primeiros polifonistas formados no ambiente eborense, foi mestre de capela na Sé de Évora. Pedro de Cristo, por sua vez, figura central do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, equilibrou tradições locais e influências cortesãs, num estilo depurado e elegante.
    Merece ainda destaque o Magnificat primi toni de Manuel Rebelo, fonte que se encontra preservada no Códice 3 da Sé de Évora, manuscrito que contém algumas obras suas e de outros compositores deste período — o Magnificat é, aliás, uma das poucas obras de Rebelo que terão chegado até aos nossos dias, testemunho da vitalidade do repertório litúrgico português conservado em manuscritos coevos.
    Este programa encerra com obras a oito vozes (a 8) dispostas em duplo coro, revelando a prática policoral que florescia na época também em Portugal.

  • Ver Primeiro Programa

    Sancta Maria, a 4
    Francisco Guerrero (1528 - 1599)

    Missa Sancta Maria, a 4
    Kyrie
    Gloria
    Duarte Lobo (1565 - 1646)

    Erumpant Montes, a 5
    Estêvão Lopes Morago (c. 1575-c.1628)

    Missa Sancta Maria
    Credo
    Duarte Lobo

    Sancta Maria succurre, a 6
    Estêvão de Brito (1570-1641)

    Missa Sancta Maria
    Sanctus
    Agnus Dei
    Duarte Lobo

    Commissa mea, a 5
    Filipe de Magalhães (1571-1652)

    Sitivit anima mea, a 6
    Manuel Cardoso (1566 - 1650)

    Ego dilecto meo, a 5
    Estêvão de Brito

    Ave Maria, a 8
    Pedro de Cristo (1550 - 1618)

    O Rex gloriæ, a 8
    Estêvão de Brito

  • Programa - Segunda Semana (11 de julho, Porto | 12 de julho, Braga | 13 de julho, Vila Nova de Famalicão)

    Tristis est anima mea

    O segundo programa, Tristis est anima mea (“A minha alma está triste”), propõe um itinerário de natureza penitencial, centrado na Missa Si ignoras te de Filipe de Magalhães, construída sobre o motete homónimo do compositor holandês Christian Hollander (c. 1510 - 1589). Magalhães, formado na Escola de Música da Sé de Évora, sucedeu a Francisco Garro como mestre de capela da Sé Patriarcal de Lisboa, assegurando a continuidade de uma linhagem musical profundamente enraizada na tradição eborense. Este diálogo entre Garro e Magalhães surge reforçado pela inclusão do expressivo Parce mihi, Domine de Garro, obra de grande intensidade retórica e elaborada técnica imitativa.
    Particular relevância assume também Tristis est anima mea de Pedro de Cristo, baseado no responsório do Ofício das Trevas para Quinta-feira Santa, cujo texto provém dos Evangelhos de Mateus 26:38 (A minha alma está triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo”) e Marcos 14:34. Este responsório inclui o versículo Nun videbitis turbam, quae circumdabit me" (Logo vereis a multidão que me rodeará”), de acordo com a tradição litúrgica da época. A versão policoral a oito vozes de Pedro de Cristo, conservada no Manuscrito Musical 8 (MM 8) da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, apresenta uma primeira secção serena e contida, evocando o pathos da angústia de Jesus. É, contudo, na passagem “vos fugam capietis, et ego vadam immolari pro vobis” (vós fugireis, e eu irei ser imolado por vós”), que a linguagem demonstra claramente uma maior vitalidade rítmica,  empregando o diálogo entre os dois coros de forma responsorial e viva. Este contraste sugere uma intencionalidade retórica entre o sentido dramático do texto que antecipa a fuga dos discípulos e a aceitação do sacrifício por Cristo e a maior mobilidade e abertura musical desta secção, testemunhando a sensibilidade de Pedro de Cristo à expressão narrativa da palavra litúrgica.
    O percurso penitencial deste segundo programa do festival integra ainda composições de Manuel Cardoso, expoente máximo da geração de ouro da polifonia portuguesa; de Diogo Dias Melgaz, considerado o último grande representante da escola eborense, activo até ao dealbar do século XVIII; de Estêvão Lopes Morago, que transportou para a sua escrita a experiência coral adquirida entre Évora e Viseu; e Estêvão de Brito, cujas vivências internacionais ilustram a amplitude da circulação peninsular de músicos.
    Também este segundo programa encerra o seu percurso com peças a dois coros, estilo que persistiu em Portugal durante séculos, e que demonstra o brilho da prática policoral portuguesa.

  • Ver Segundo Programa

    Asperges me, a 4
    Manuel Cardoso (1566 - 1650)

    Missa Si ignoras te, a 4
                Kyrie
                Gloria
    Filipe de Magalhães (c. 1571 - 1652)

    Exsurge, a 4
    Estêvão Lopes Morago (c.1575 - 1630)

    Missa Si ignoras te
                Credo
    Filipe de Magalhães

    In jejunio et fletu, a 4
    Diogo Dias Melgaz (1638 - 1700)

    Missa Si ignoras te
                Sanctus e Benedictus
                Agnus Dei
    Filipe de Magalhães

    Parce mihi, Domine, a 5
    Francisco Garro (1556 - 1623)

    Sitivit anima mea, a 6
    Manuel Cardoso