Livros

«Entre os trabalhos críticos e histográficos que se têm aproximado à aventura da intervenção surrealista em Portugal, e no que concretamente se refere à produção do movimento surrealista português, já houve quem destacasse a “pobreza de textos de carácter doutrinal (tanto quantitativa como qualitativamente), apenas atenuada por algumas comunicações de António Maria Lisboa, intervenções esporádicas, ainda que iluminadoras, de Mário Cesariny, ou os textos por vezes esquecidos e hoje, felizmente, recuperados de Ernesto Sampaio”, bem como “a escassez, também,  de textos colectivos de intervenção directa e imediata”, ao tempo que se assinalava, no âmbito dos “textos de criação, ou seja, da produção artística”, a “relativa abundância, curiosamente, de textos colectivos (cadáveres esquisitos e outros jogos surrealistas)”. Podemos acrescentar hoje que, para além da quantidade destes textos colectivos nascidos automaticamente do convívio por praças, passeios, bares, casas e ateliers, os surrealistas portugueses incorporaram aos modelos herdados formas novas, deixando-nos, por exemplo, uma obra de teatro toda em cadáver esquisito que já foi divulgada no número 7 destes Cadernos, ou este conto, realizado com a mesma técnica e até hoje inédito, que Cristina Azevedo encontrou entre os papéis deixados pelo seu pai, um dos assinantes do texto, e a quem agradecemos desde o Centro de Estudos do Surrealismo a sua generosidade e a sua colaboração.

Vila Nova de Famalicão, Novembro de 2010.»